Por Dr. Leandro Pinto.

MARÇO 2025

A Retórica Trumpiana: Persuasão Política e Mercancia de Influências

O que é a política, senão um engenhoso jogo de prestidigitação, no qual a realidade é menos importante que a maneira como se a apresenta? Donald Trump, afeito aos desvarios de um populismo de feição mercantil, manejou com maestria a recente aquisição dos portos panamenhos pela BlackRock como se fosse um golpe magistral contra a ascensão chinesa.

A narrativa é engenhosa, quase shakespeariana: um império em declínio, cujos últimos arautos buscam, desesperados, recuperar a primazia perdida diante do avanço de uma potência taciturna e paciente. Trump brande o feito como se fosse uma gesta heroica, esquecendo-se de que a Belt and Road Initiative já entreteceu a China nas malhas do comércio global de maneira irrefreável. No fundo, a operação não é uma reafirmação de hegemonia, mas antes um paliativo de Wall Street para apaziguar o frenesi de investidores que não compreendem a inexorável lógica da história.

O Esforço Americano para Reescrever as Alianças Globais tende ao caos e flerta com o colapso . A cartilha estadunidense é uma velha conhecida: fabricar antagonismos e, com eles, forjar alianças. Não podendo digerir a ascensão da China como potência comercial e industrial, Washington tenta impor sua própria visão de mundo: Pequim seria o vilão de uma tragédia shakespeariana, um Mefistófeles cujo pacto traria, a longo prazo, a ruína dos incautos. O problema, porém, é que essa estratégia já não goza do mesmo vigor de outrora.

O que se observa é um mundo cada vez mais refratário ao maniqueísmo que marcou a Guerra Fria. O BRICS, agrupamento outrora visto com ceticismo, consolidou-se como um contrapeso à arquitetura financeira dominada pelo Ocidente. A China, com sua proverbial paciência e uma estratégia digna do estrategista Sun Tzu, expande sua influência não pela força, mas pelo pragmatismo e paciência. E nesse novo tabuleiro, as peças não mais se movem ao sabor exclusivo de Washington.

Podemos hoje afirmar que o pragmatismo chinês é tão baseado no sucesso que literalmente o contribuinte dos EUA paga as contas do exército da China! Será que alguém se lembra dos quase 1 trilhão de dólares que a China possue em American Bonds?

A Belt and Road Initiative, deveras a Paciência Oriental Contra está por minar o cortoplacismo de Wall Street. A bem da verdade, a disputa entre China e EUA não se dá apenas no plano geopolítico, mas no embate entre filosofias econômicas diametralmente opostas. Wall Street, insaciável em sua volúpia por lucros imediatos, investe como um jogador desesperado, buscando retornos astronômicos no menor espaço de tempo possível. Pequim, por outro lado, avança como um xadrezista meticuloso, construindo influência com a paciência de quem entende que o domínio se estabelece em décadas, e não em trimestres.

A Belt and Road Initiative não é um projeto qualquer: é a tessitura de uma nova ordem comercial e geopolítica, onde as economias emergentes se libertam das amarras do sistema financeiro ocidental. Enquanto BlackRock e seus congêneres se lançam em aquisições esporádicas para conter danos, a China finança portos, estradas, ferrovias e sistemas de energia, garantindo que, no longo prazo, sua influência não seja uma mera intromissão, mas uma presença incontestável.

Se a economia é a artéria por onde circula o poder, a China não se limita a abrir feridas no organismo ocidental – ela está redesenhando sua anatomia.

No grande tablado das relações internacionais, os espectadores já não são meros coadjuvantes, mas participantes ativos. A Europa, ainda atrelada ao eixo estadunidense, começa a perceber que sua dependência em relação a Washington pode ser um jugo tão oneroso quanto sua relação comercial com a China.

O Sul Global, tradicionalmente relegado ao papel de platéia, vê no BRICS uma plataforma alternativa, um vislumbre de autonomia econômica que escapa às condicionalidades draconianas do FMI e do Banco Mundial. Os países africanos, latino-americanos e asiáticos já não aceitam, sem contestação, as diretrizes impostas pelos antigos impérios financeiros.

E a Rússia? O Xadrez de um Império que a história mostra ser indestrutível em sua essência.

A Rússia, que a cada século sobrevive a alguma tentativa de apagamento, compreendeu cedo a dinâmica desse jogo. Moscou não se ilude com a retórica ocidental, tampouco deposita confiança irrestrita na aliança com Pequim. Seu objetivo não é apenas resistir, mas reesculpir sua influência no tabuleiro global.

Ao mesmo tempo em que os EUA se engalfinham com a China, Putin finca seus interesses em terrenos outrora dominados pelo Ocidente: do Sahel africano à Ásia Central, passando pelo Oriente Médio, a Rússia expande sua presença em acordos energéticos, parcerias militares e iniciativas diplomáticas que minam a hegemonia de Washington.

Se os EUA tentam conter a China e esta, por sua vez, se firma como a espinha dorsal do BRICS, a Rússia atua como o catalisador que transforma a multipolaridade de um conceito abstrato em uma realidade palpável.

Enfim, enquanto os estadunidenses celebram a aquisição dos portos panamenhos retomados da China como uma vitória estratégica, no grande esquema da história, essa movimentação é um remendo. Não há hegemonia que resista sem planejamento de longo prazo, e nesse quesito, os chineses e os russos demonstram um fôlego que Wall Street jamais terá.

A guerra que se desenrola não será vencida no calor das manchetes, mas no silêncio das negociações, nas concessões de crédito, nas redes de infraestrutura e nos pactos que moldam o destino das nações. E, nesse campo, a China, a Rússia e o BRICS avançam com uma serenidade que beira o inexorável, enquanto os EUA ainda tentam entender que o mundo já não lhes pertence.


Sobre o Autor

Dr. Leandro Pinto é advogado sênior na Dr Leandro Pinto Law Firm, com foco em direito internacional, ênfase em regulamentações bancárias e energéticas. Sua trajetória no campo do direito bancário, aliada ao domínio de algoritmos criptográficos, o posiciona como um dos mais renomados especialistas em negociações financeiras globais. Dr. Leandro é o criador do Encrypted Infinite Point Algorithm (EIPA), uma metodologia revolucionária na construção de tokens e outras tecnologias baseadas em criptografia. Seu trabalho em algoritmos avançados permitiu a otimização de sistemas financeiros e contratos inteligentes, fornecendo soluções inovadoras para o mercado energético e tecnológico.

Sua vasta experiência no mercado financeiro e jurídico internacional confere-lhe uma perspectiva única sobre as implicações geopolíticas e econômicas de inovações no setor energético. Com um histórico de sucesso em transações internacionais, sua expertise garante que clientes estejam sempre na vanguarda das operações globais.

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